Os dias tendem a ser ensolarados nessa época do ano, e o céu sem nuvens costuma ser um presságio de que a noite será fria. Acontece que, num ambiente com muitos ex-adolescentes, intempestivos no furor da idade, nada é previsível. E chega a ser óbvio que a imprevisibilidade juvenil não tarda a render maus frutos. Sempre vai existir alguém disposto a lhe surpreender e a atingir novos patamares de insensata convivência. Hoje eu sou um picolé de nabo, fria ( lê-se, adepta do desprezo) e indigesta. Pensei muito, mais que o normal, para um dia que mal chegou na sua metade, e já que eu sou superficial, fria, egocêntrica, egoísta e ególatra toda vez que eu penso demais eu fico adepta do desprezo, mas como eu não sei lidar bem com sentimentos, meu desprezo pode ser facilmente encarado como uma postura agressiva, e para o desfecho da Ópera D'eu, eu começo a despejar verdades sobre as pessoas. Acontece que as únicas pessoas no mundo que suportam meus transtornos de humor não estão ao meu lado agora. E então eu me ponho a questionar, como sempre, as minhas (as suas, as nossas) atitudes sobre esta terra chata e feia. Entre uma piadinha e outra, me calo, afinal, esse papo de que o ataque é a melhor defesa, é a maior furada! Você passa tempo demais atacando as pessoas ao seu redor e se perde de você, por um óbvio medo de ser atacado. Por isso me calo, durmo e muitas vezes sumo... Chego a fingir que não existe meio de me comunicar. Agir com arrogância não me torna melhor, nem mais decente, coerente ou mais capacitada para julgar alguém . Aliás se possível, rouba de mim o melhor da minha vida, o melhor da emoção de viver sem me preocupar em me defender, ou atacar, ou qualquer outra superficialidade. Tudo bem que, quando percebo que esse é o dia “picolé de nabo”, algumas pessoas já se magoaram, outras já ouviram (in)verdades – até que hoje o balanço final foi baixo. Mas vou me recolher por aqui. Não preciso atender telefone, não preciso encontrar com as pessoas, hoje, só por hoje, não preciso conviver. Ninguém irá ao seu quarto quando escurecer, saber o que se passa no seu coração, frente a verdade de um coração vazio, sem dor, sem amor, sem voz. Ninguém irá ao seu quarto procurar saber se o que faz, é certo ou errado. Por isso, apenas durma, amanhã talvez amanheça pra você também.