Dez para as seis da manhã. Acordo com aquela preguiça, olho através da cortina e o dia ainda não amanheceu, vontade de voltar a dormir. Não tenho alternativas, a parada é levantar e encarar a realidade. Banho. Café. Coragem. Pego o ônibus, rumo ao trabalho, rumo a fatura do cartão de crédito que está para vencer... Afinal, alguém tem que pagar por ela! O ônibus é cheio, o motorista mal-humorado, a viagem é tensa. Piso no pé do camarada de cabelo alisado... Ora, vejam! Peço desculpas, ele me olha atravessado, sigo em minha jornada rumo ao centro do buzão, rumo ao centro da Terra, atrás de uma garota com creme dental na nuca. Fico sem graça, não consigo parar de olhar aquela mancha branca, enoooooorme, misturada com o "neutrox" que escorre de seu cabelo molhado. IECAT! Ela percebe minhas olhadas e me lança umas investidas. UEPA! Será que ela achou que eu estava dando mole pra ela? 0_o Mesmo que essa fosse a minha praia, àquela altura do campeonato tudo o que eu não pensaria era em sexo. E o ônibus segue seu caminho, rodando a tediosos 30km/h. Um motoqueiro acidentado, um trem que atravessa a cidade... Sempre os mesmos imprevistos, os mesmos detalhes. Recebo um sovaco na minha cara. Odeio começar o dia com sovacadas. Aliás, quem gosta? Um coroa mais ousado resolve encoxar a bicha que trabalha no salão da praça, instaura-se um bate-boca. Pelo menos isso... Adoro bate-bocas! \o/ Quando a paz parece reinar, alguém resolve compartilhar o urubu à milanesa da janta, com o ônibus lotado. Um passageiro grita, indignado: "Abre a janela"! Francamente, pessoas com o cú frouxo, deveriam frequentar locais públicos e pouco arejados, arrolhados. Já era hora. Meu ponto. Chego à calçada amarrotada, descabelada, sovacada e com meu lâncome vencido pelo jantar indigesto de alguém. Sou brasileira, carioca e flamenguista, o perfil de alguém que não desiste nunca. Recomposta, atravesso a rua. Não é que uma carroça, resolve fazer uma curva a direita sem dar seta?? Por um triz, era uma vez uma menina feliz... Enquanto resolvo se levo a queixa para o DETRAN ou IBAMA, desvio das cacas que um cavalo, de intestino sensível, largou pelo caminho. Chego ao trabalho, me encaminho ao refeitório, com pose de lady, proletariado, mas lady e todos por aqui sabem o porquê. Oito e dez da manhã, pego meu "Neston" com leite. Sou lady, mas não dispenso mingal. Desço as escadas. Vou descendo. Uma curva, outra... Labirintos do dever. Lexos vem chegando, atrasada, Lulu vem logo atrás, parece que seu filho teve febre ontem à noite. Meus olhos estão casados. Minha blusa já não é branca. Oito e meia da manhã. Hoje é segunda-feira, o primeiro de cinco longos dias. O ônibus, o sovaco, o urubu, a carroça. Hoje ainda é segunda. Maldito seja aquele que disse que "o trabalho traz dignidade a um homem". Que ele enfie sua dignidade no cú, e em seguida, a minha.