Estranho, logo eu estar escrevendo uma carta. Logo eu, tão cheia de pose, tão fria, tão independente, tão bem resolvida. Quanta bobagem. Quantas máscaras! Você não deve estar entendendo nada... Nem eu. Mas é isto que você desconfiou mesmo (embora não desse crédito) - uma carta de amor. Anticonvencional, lógico. Também não mudei de personalidade por causa do que ando sentindo por você, embora muita coisa esteja diferente. Minha perspectiva, meus sonhos, meus desejos, minha solidão, as músicas, os poemas... Sua ausência. Parece que o mundo à minha volta adquiriu tons vermelhos, passionais, quase dramáticos; intenso, como o desejo em tê-lo comigo. Andando ao meu lado, de mãos dadas. Conversando comigo, ainda que em silêncio. Dizendo pelos olhos, tudo aquilo que não consigo definir - mas que sinto, quase dolorosamente. Admito não ter esperanças... Minto. Alguma há ou não estaria escrevendo isto. Mas é tão frágil. Na verdade esta carta é antes de tudo um desabafo. Sei lá por que temos essa necessidade boba de declarar, expandir, falar, espalhar que estamos apaixonados. Ainda faço uma tese de mestrado sobre "A necessidade humana de falar sobre a Paixão". Por que não guardar para si? Por que não proteger um sentimento sem chances de realização? Por que dar de bandeja a alguém este tipo de poder sobre nós? Não sei... Mas infelizmente sou igual a todo mundo. Preciso transformar tudo em verbo e substantivo, objeto do meu desejo. Da minha atenção. Da minha raiva. Do meu cuidado. Do meu ciúme. Da minha admiração. Da minha mesquinharia. Do meu carinho não demonstrado. Causa da angústia e do riso... Tão contraditórios são os sentimentos que causa em mim, porém, nunca a indiferença. Tudo o que você faz, fala tem uma repercussão na minha vida. Pequena ou grande. Boa ou ruim. Não importa, eu sei que há. Na maioria do tempo me sinto um ser humano horrível por ser tão vulnerável a coisas tão corriqueiras. Mas a felicidade de atos simples traz uma alegria tão plena e boba, que quase esqueço o quanto me sinto ingênua. Na verdade o que sinto por você não me faz bem de um modo geral. Me atormenta. Me irrita. Por mais que eu tente ignorar, fingir que não existe. Porém elas, as lembranças, estão ali, infundindo falsas esperanças. Alimentando ilusões. Enchendo de magia o devaneio. Tudo isto anda me tomando, tão completamente que me pergunto como você não leu ainda nos meus olhos! (???) Sinto como se fossem letreiros em néon divulgando, ferozmente, minha confusão. Talvez minha máscara esteja melhor colocada que eu imaginava. Enfim, é isto. Eu o quero. Eu o desejo. Comigo. Preciso reencontrar o caminho da minha paz. Gostaria que você pudesse caminhar ao meu lado. Mas como disse, na verdade não tenho grandes expectativas. Preciso trilhar minha estrada sem você (não vai ser tão leve; alegre como se você estivesse comigo) mas o que se pode fazer? Na verdade, quero ter comigo a certeza de que ao menos tentei... Talvez seja essa a função da necessidade absoluta da paixão de declarar-se. Está aí. É isto. Ainda bem que avisei não ser uma carta de amor tradicional. Porém, duvido ter sido muito original. Afinal, "todas as cartas de amor são ridículas". Quem sou para contestar? Meu coração, com todas as taquicardias e arritmias da paixão, é seu.
Com amor, J.
Com amor, J.