sexta-feira, 18 de maio de 2007

missão cumprida

Acordou atrasada. O que para ela já não era novidade. Ao passar em frente ao espelho, deu- se conta do pijama de ursinho e as pantufas. Riu-se perguntando, quando iria amadurecer. Durante o banho, enquanto cantava Mc Marcinho, lembrou-se daquele beijo. Aquele beijo. Enquanto penteava o cabelo, tentou um topete em vão. Cantou guerra no tecido, vestindo-se para mais um dia de luta. Calça preta, social. Ok. Camisa branca, engomada. Ok. O blazer do terninho. Ok. Saltos Altos. Ok. Olhou novamente as sandálias... Pensou que seria divertido trocá-las. Calçou o all-star vermelho e saiu de casa. Amanheceu menina. Pegou um ônibus. Dois. Chegou ao trabalho, ensaiando a desculpa – na bolsa uma marmita gelada. Alíquotas. ICMS. Um telefonema. Outros cinqüenta telefonemas... Horário de almoço. Entre um cafezinho e outro, um suspiro. Lembrava-se vagamente da vida na praia. À tarde, chegou madura, adulta, responsável. Final de expediente, mais um ônibus. Dois. Ombros cansados. Olhar perdido. Pensamentos vagos. Parecia triste. Sorriu. Desceu dois pontos à frente. Parou na sorveteria, pediu cinco chicletes e um milk-shake de morango com bastante chantilly ! No caminho pra casa, divertiu-se fazendo enormes bolas de chiclete. Com cadarços desamarrados, sorria para as pessoas na rua, que lhe lançavam olhares, às vezes curiosos, às vezes assustados. Cantarolou alguns sucessos dos anos 90. Chegando em casa, olhou-se no espelho e surpreendeu-se com um bigodinho de chantilly, riu a valer. Sozinha. Fez outra bola de chiclete. Jogou-se na cama. Adormeceu contando estrelas. Missão cumprida. Anoiteceu criança. Por mais um dia, viveu mulher.